Muito antes de Thriller, Jackson quebrou barreiras raciais



Em 1972 quando o filme 'Ben' estreou e apresentou a voz em falseto do pequeno Michael Jackson aos cinemas, a alegria da América negra era palpável.
Não apenas porque a canção galgara o primeiro lugar nas paradas, mas isso emanava da magia do próprio filme.
E a América Negra, mantida a distância dos filmes importantes da indústria cinematográfica, passou a prestar atenção com um ávido interesse.
Michael conseguiu este feito apenas 18 anos após a queda das leis de segregação racial nos Estados Unidos.
E muitos dos cinemas que exibiram "Ben" haviam sido antes salas de exibição onde os negros não podiam entrar.

Na América urbana a realidade não passava despercebida.
Os Anos 60 já haviam acabado mas a batalha pela igualdade racial que ajudaram a forjar se fazia sentir no ar.
Nos anos 70 grupos de americanos negros de meia idade ainda traziam remanescencias do circuito restrito e do mundo do vaudeville - dois redutos populares onde a apresentação de artistas negros talentosos eram permitidas.

Talvez eles tivessem visto Moms Mabley naquele circuito.
Talvez tivessem visto Redd Foxx em Atlantic City ou até mesmo os Nicholas Brothers - Fayard e Harold - em Baltimore.
Antes que os políticos assumisem um tom mais desafiador e antes da chegada dos ministros negros de discurso empolgante (Gardner Taylor, Adam Clayton Powell Jr., Martin Luther King Jr.), era através da música que a América negra tinha a oferecer a sociedade - quase como uma súplica em busca de alguma aceitação.
Haviam os talentos de Scott Joplin e Louis Armstrong; Duke Ellington e Lena Horne.
E claro, haviam Billie Holiday e Charlie Parker.

Mas ainda assim até então os únicos músicos negros que haviam conseguido participar de trilhas sonoras de filmes de primeira linha eram Quincy Jones e Duke Ellington.

O pequeno Michael chegou num momento onde a América negra estava sedenta de participação na indústria do cinema, onde sua cidadania era definida pela identidade racial nas telas.
Ele tinha apenas 14 anos em 1972 e as muitas mães, tias e irmãs negras dos guetos da nação pareciam querer acolhê-lo carinhosamente em seus colos.
Ele era o irmão caçula, o garoto prodígio, ele era como o prodígio de nossa própria vizinhança.
O inicio dos anos 70 na verdade representaram uma das mais belas épocas na América - com o inicio da integração racial, o aumento das liberdades civis e a voz de Michael Jackson ecoando nos rádios.
O pequeno Michael ao lado do que de mais belo a América negra tinha a oferecer.
Ao longo dos anos ele foi capa das revistas Ebony e Jet.

E mesmo quando sua vida começou a tomar dimensões estranhas, a América negra se recusou a abandoná-lo.
Como se eles soubessem a dor que afligia tantas crianças artistas, fossem elas negras ou brancas.
O pianista e cantor Bobby Short tinha sido uma criança prodígio.
"Um dia quando você está no show business ainda uma criança, um estalo acontece e você começa a notar que o que você faz é importante para um monte de adultos ao seu redor.Você precisa de coragem pois sua infância acabou. Não é uma situação fácil - se você decidir largar tudo você vai magoar muita gente"

Haviam aqueles na América - particularmente na América Negra - que imaginavam ligações entre Sammy Davis Jr - ele mesmo criança prodígio - e Michael Jackson.
Ambos pareciam ser eternamente crianças.
Ambos tiveram participações no musical O mágico de Oz.
"Não existe lugar melhor que nossa casa, não existe lugar melhor que nossa casa"
Quantos caras nas cadeiras de barbeiro falavam de Michael Jackson em seu jatinho particular voando ao redor do planeta? Aquilo era poder econômico!
Quantas mulheres nos salões de cabeleireiro na região centro sul de Los Angeles se perguntavam quem fazia o cabelo dele?

Parecia que ele podia estalar os dedos e fazer algo acontecer, fazer animais brotarem no quintal de casa.
O mago das esquisitices - é verdade - mas na América Negra Michael foi um pioneiro.
Michael era uma criança e concessões eram feitas a crianças.
E claro houve o problema da pele.
Sua pele mudou de uma bela tonalidade negra para um branco alabastro.
Os tablóides acharam bizarro mas esta não foi a reação da América negra.
Claro que houveram os críticos mas de um modo geral houve muito mais compaixão.

"Deixem Michael em paz" se tornou um refrão popular na comunidade negra.
Deixem ele sozinho.
E é claro - ele foi de fato deixado bastante sozinho...
A América negra sempre considerou Michael Jackson um dos seus, com sua voz ecoando acima deles.
Ele estaria sempre num daqueles shows NAACP Image Awards (shows destinados a celebrar o talento dos artistas negros nos EUA) , ao lado das pessoas que o viram crescer.
Ele simplesmente aceitaria as lágrimas de emoção e alegria de jovens e velhos e se alojaria para sempre em seus corações.



Por Wil Haygood.

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